17/11/2014

Fusão vanguardista e renovação estética da música


Com o lançamento do CD “Filhos da luz”, Totó confirma a sua inclusão na plêaide dos mais importantes cantores, compositores e guitarristas da  vanguarda, valorizando o primado da renovação estética da Música Popular Angolana, pela fusão, retomando um processo inciado por Liceu Vieira Dias, do Ngola Ritmos (1945), formação musical pioneira na estilização do cancioneiro tradicional.

No processo de fusão e renovação estética, a história da Música Popular Angolana regista ainda os nomes de Vum-Vum Kamusasadi, pai do rock angolano, com o emblemático “Muzangola” (1969), Waldemar Bastos, com o  LP, “Estamos juntos” (1983), e, mais recentemente, André Mingas, com o CD “Coisas da vida (1987), e Filipe Mukenga com o “Novo som” (1991). Nesta linha de continuidade, a contemporaneidade musical angolana produziu novos talentos, dos quais é  legítimo citar os herdeiros mais conhecidos: Coréon Dú, Sandra Cordeiro, Kizua Gourgel , Emanuel Kanda, Toty Sa'Med, Selda, Carlos Lopes, Carlos Nando, Africannita, Dodó Miranda, Gabriel Tchiema, e Totó, cantor,  compositor, e produtor musical, considerado, pela crítica mais exigente, um dos mais virtuosos guitarristas da nova geração de instrumentistas.
Tanto na geração de Vum-Vum  Kamusasadi como na  de André Mingas, verificamos que os processos de fusão e renovação estética, ocorreram sempre em momentos cruciais da formação e consolidação da história da Música Popular Angolana, entendida como fenómeno de inclusão e reencontro de géneros musicais, respeitando sempre os valores rítmicos da tradição musical angolana.
Filho de pai incógnito e de Maria Domingas Tomás,  Serpião Tomás nasceu no dia 20 de Março de 1980, em Luanda, no Bairro da Samba. Embora a substância e a destreza na execução da guitarra, tenha como origem a persistência, pelo autodidactismo, Totó recordou como aprendeu, em 1997, os primeiros acordes de guitarra: “a minha curiosidade, a busca incessante das notas dissonantes, e o constante melhoramento, pela auto-aprendizagem, foram aspectos decisivos para atingir os meus níveis actuais de execução. No entanto, não tenho dúvidas que foi crucial, no início, o papel  desempenhado por Hermenegildo Salgado, grande amigo e companheiro da Igreja Maná, na aprendizagem das primeiras notas musicais”. Oriundo de uma família com profunda devoção religiosa, Totó teve contacto, desde muito cedo, com a música gospel, sempre inspirado pelos primos, um dos quais tocava piano, igualmente na Igreja Maná.
Sempre atento às grandes referências da Música Popular Angolana, do jazz e soul-music norte-americana, Totó teve a sua primeira aparição pública no aniversário da Escola 28 de Agosto, em 1994, na presença do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que, faz anos na data que deu nome à referida Escola. Na ocasião Totó, que foi vivamente aplaudido, interpretou a canção “Feliz aniversário, acompanhado pelo grupo “N’sex love” com Bigú Ferreira (voz), Walter Ananaz (voz), João Paulo (teclas e programação) e Gunza José (teclas e programação). Do encontro com o “N’sex love”, resultou uma aproximação que motivou o guitarrista a prosseguir a sua carreira musical.
Sobre a sua relação com a música, Totó revelou-nos o seguinte: “A música exprime sentimentos, pode curar doenças da alma humana, despertar consciências, transformar mentalidades, de forma positiva, e  constitui uma ferramenta, que pode fazer do mundo, um lugar melhor para se viver”.

Festival


Totó foi figura de cartaz, e presença notável na quarta edição do “Luanda Internacional Jazz Festival”, em 2012, em que participaram músicos notáveis, tais como: Maceo Parker (EUA), Etienne Mbapp (Camarões), Carmen Souza (Cabo-Verde), Asa (Nigéria), Sara Tavares (Portugal), Manu Dibangu (Camarões), Ivan Lins (Brasil), Boyz II Man (EUA), Ricardo Lemvo (RDC), Stewart Sukuma (Moçambique), Dj Darcy (Angola), Hubert Laws (EUA), Abbdulah Ibrahim (África do Sul), Cassandra Wilson (EUA), e Concha Buika (Espanha). Angola esteve representada por: Coréon Dú (Angola), Aline Frazão (Angola), Dj Djeff (Angola), e o Conjunto Angola 70 (Angola), uma selecção de músicos residentes em Luanda, que já efectou várias digressões pela Europa. Totó apresentou-se com uma selecção de instrumentistas formada por: Nino Jazz (teclas), Hélio Cruz (bateria), Gato  Bediseyel (percussão), e Marabú (baixo).

Distinções


Totó arrecadou o terceiro lugar do “Top dos Mais Queridos de Angola”, da Rádio Nacional de Angola, em 2006,  ano em que esteve, em primeiro lugar durante um mês, no Top da Rádio Difusão Portuguesa, RDP África e no Top da Rádio Praia FM de Cabo-verde.  Totó recebeu ainda o disco de ouro da editora portuguesa MPO , em Maio de 2009, em Luanda, galardão que foi outorgado pelas vendas superiores a 15 mil unidades, do CD “Batata quente”.

Discografia


Múltiplo nas opções estéticas, criativo e cuidadoso com os arranjos, “Filho da luz” (2014), o novo CD de Totó possui todos os ingredientes passíveis de integração na agenda internacional dos festivais de referência. Note-se que a trilogia temática, consubstanciada na esperança, paz e amor, perpectivando a convivência humana, em harmonia, atravessa a produção textual da totalidade da obra de Totó, iniciada com o CD “Vida das Coisas” (2006), “Batata Quente” (2010), e “Filho da luz” (2014). Privilegiando as tendências do afro jazz , Soul , “rhythm and blues” e valorizando, sobretudo, o kilapanga, estão alinhadas, no CD “Filhos da Luz”, as canções: “Blues sem Chão”, com um soberbo contra-baixo, “Meu mundo”, música com a qual Totó tem uma relação muito especial, “Ame ndu ku sole” (eu te amo), “Luzingo Malembe”, com um notável arranjo no piano, “Por beber”, “Estrela da minha vida”, “Por amor”, “Viver”, “Revelação”, “Cicale ngo”, “A mulher que te ama”, e “Filho da luz”, canção que dá título ao CD.

Depoimento


O pianista Nino Jazz, amigo e cúmplice da vida artística, fez o seguinte depoimento sobre o perfil artístico de Totó:  “Conheci o Totó, em 1996, na sala de ensaios do grupo “N'sex love”, hoje O2,  e confesso que fiquei muito impressionado com poder da sua voz, e da sua prestação, enquanto artísta. Como devem imaginar são vários os caminhos percorridos com o Totó, e tenho  referências muito positivas deste grande cantor, compositor  e grande guitarrista,  que considero, incontornavelmente, um irmão”.
FONTE: Romi Cenas

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